E basta dormir e sonhar indevido
para acordar no devido,
na realidade...
----- Em 12/05/09
Na sacada
Recanto de descanso
Minha rede sempre foi o sofá
da tua sala de espera
Onde dei-me o despeito do aguardo;
Onde desenhei o nada
que floresce no vazio;
Onde fiquei,
permaneci
me estatizei...
Virei a mobília velha que apóia a chave
Me lancei no despautério
Desfaleci no torpor austero
E cá fico...
Deprimente e frio
Procurando as palavras pro doloroso inefável
Maquinando saídas pro indelével
E contando...
Olho pra ela brilhante no céu
E me pego tolo a contar
Cantando para mensurar
Quantas e quantos picos de lua deixei passar
Passar, passar e passar...
Sozinho e solitário
na espera dos braços teus
que até agora não assumo que não virão!
E muitas se foram
Tantas quantas gotas de lágrimas me escorreram
“mil lágrimas”
Enquanto ela entra e sai por entre as nuvens
A chuva cai
Enquanto espero que ela desça
meu peito se esvai
diminui
atrofia
amargura
e se vai
Não, não sara
não se comove
apenas vai
Inepto e negligente
Vai
Até a incerteza do amanhã
Que toma tua claridade lunar
Pra ter um guia no escuro da noite
Pra que me solte as amarras da morbidez do aguardo nefasto
Pra que eu seja tão mais vivo como outrora
pra que não seja eu
o apreço que agora evapora!
Foto: Pascal Renoux
Uso a foto dele porque, mais perfeita que essa imagem, só se fossemos eu e ela.
Mais uma vez
impróprio para menores de (amoros)idade
Acordei várias vezes à noite com a tua ausência me fazendo um zumbido, ensurdecedor. Como não havia ido dormir. Deitara-me na tranqüilidade do incômodo silencioso das famigeradas conclusões que nossas últimas palavras nos impõem inexoravelmente. Mas mesmo assim, levantei-me com a sede do teu dorso junto ao meu, meio perdido, meio sem saber porque.
Um torpor que só se realiza no teu beijo. E dei-me pouco aos pensamentos e muito mais aos afazeres. Falível solução que tomou as aspirações, várias vezes. Como o ambíguo na estafa pela resistência da insistência da afirmação da tua presença no contar das horas; como se fosse a minha e a tua vida, algo conexo. Até debruçar-me na confissão da sede do teu corpo. Como quando te encontrei no outro dia. Como quando tudo sumiu na tua presença; quando como tudo ainda some na tua presença.
Abracei-te com leve carinho e entrega – aos motes que os limites estabelecidos permitiam – que comungamos ao encontro sorridente e de energia brilhante. E lembrei dos cantos escuros em que nos entregamos ao ensejo fervilhante de nossas peles. No toque, no olhar, no teu cheiro tão inebriantemente meu; na firmeza que tua mão segurava a minha apoiando-a no teu colo, até falecermos no sono; no toque da mão que treme lancinante pra realizar o corpo.
Como quando te disse “eu te amo” e teu abraço soltou todo o ar do teu peito, num sorriso. Foi como quando, eu, adentrando os teus segredos, te fizera soltar o dorso sobre a cama libertando qualquer tensão na inexatidão complacente de dois mundos que se tornam um e apagam o universo por completo. E assim lançamo-nos à cadência tênue do ritmo torpe que nos assumira o controle das faculdades, deitados no cantar de um blues, que nada mais é do que nosso, para compor a paisagem da aglutinação que subverte qualquer querela em amor.
E o vento... Ahh! O vento atravessando nossas narinas demarcando o compasso do peito que respira uno num turbilhão sinestésico agonizante e confortante ao mesmo tempo. Só eu sei o gosto que tem a tua pela na minha boca; o som contido que tem tuas confissões silenciosas no meu ouvido enquanto te empurro, te puxo, te assopro, te trago e te levo onde não fomos ainda e te forço à superação da falácia do momento pedindo o som sussurrado do sim, que me desfavorecia tão econômico em outros momentos. Agora ele é abundante, quando me enclausuro no teu pescoço e me deixo embevecer do teu cheiro, num misto doce do teu perfume e lascivo da tua pele. Ele penetra o parco intelecto e atravessa minhas lembranças, imantando a profusão de sensações até chegar à minha nuca onde meus pelos levantam-se em louvor à tua presença e encontram a tua mão com meus cabelos entre teus dedos para segurar o fulgor das portas abertas e janelas atravessadas.
E pela cadência que se elege o momento de ter-te trançada no meu tronco, ofegante pelo que o olhar já não capta, e integral no que dois corpos falam em uma só língua. Sem dúvida, sem semelhante possibilidade de turvos pensamentos, sem nada... No vazio do momento em que só existe um, eu e tu. E pobre dos ponteiros, posto que nem relógio existe mais. Somente a iminência gradual da explosão que toma conta de tudo... Do ar, do chão, do som, da luz (ou da falta dela), enquanto só me é permitido olhar teu seio e ver-te ensandecida de nossa existência, soltando todo o ar do peito e deitando o pescoço do lado pra atrair as ranhuras que te fazem minha barba, e me recebendo com a pélvis ouriçada e oscilante. É, então, que tua pureza do desejo mais visceral me rouba a contemplação e me aperta sobre o teu corpo num andamento já acelerando, num abraço que pede mais, e mais.
Entregue à ti, à nós, sou ali, como somos em qualquer tempo, e te entrego confissões pequenas no ouvido à que somos tomados pelo corpo, descortinados do desejo viral, desprovidos do pudor, sujeitos à animalidade, debruçados de fervor carnal. E é que suados, um no outro, explodimos de vida no louvor da existência naquele momento. O único momento em que somos realmente inteiros e vigorosos no amor; entregues e fabulosos; companheiros na cura da dor. Quando todas as instâncias são uma só; quando juntam-se as partes em união completa e só nos resta o desfalecimento do abraço e o beijo que acalenta e fecha tudo: o agora! Entorpecidos um do outro, lançamo-nos no nada para a companhia total.
E foi dessa sede que me atulhou os pensamentos tua ausência. Essa saudade que me foi contenção da inevitável certeza. A de que, à despeito do inatingível patamar de uma mesma língua e do entendimento... Antes de tudo isso, nosso amor é belo quando somos mais que nossas querelas...
Escrevi algo bem mais cheio de elementos, simbolos, palavras e elucidações, mas vou me contentar em dizer:
"Rosemaryyy..."
ontem e hoje ainda parecem o mesmo dia. Não houve sono correto que claudicasse o tempo a separar as horas em momentos díspares no calendário. Ainda com o danúbio corrosivo do ensejo diminuto, ressoou nos dias que não se intervalaram, um tento. Já na madrugada o afago amigo me lançou no colo dessas teclas de tão carioca companhia. E hoje a sutileza impôs ao prolixo lascivo, a sabedoria em pequenos atos que me arrancaram sorrisos meus e dela. Cuidei do amor como um irmão e sarei a dor como um homem. Ainda sarando... Sarando... Pelo amor que alimenta, pelo perdão que transforma.
"E nem uma gota de sangue
resite ao encanto de uma criança
expondo a alma"
Ainda do "baú"
09/02/2009
E é para coroar uma casa que a luz encontra teu dorso em celebração. Desce (a luz) como um barco solto e desvairado rio abaixo nos entremeios das poucas linhas que desenham suspiros, dos meandros de dos teus rios que aglomeram desejos fugidios. Não há cumprimento congelado que não tropece o olhar no mantra desvalido que se recria no teu busto; vai o apreço, como uma gota que salta. E assim segue o olhar... vertiginoso na cadência intermitente que se faz imagem, que se tem querer... Como uma ânsia por ter... Um pedido de colo, no teu colo. Como quando o amor se realiza no abraço humano, é que tudo se inclina às nuances que atravessam teu pescoço com um toque doce e desce o tórax com um véu que se planta sobre o peito; sobre o teu seio. E se debruça em realização qualquer, a vontade em ti morar. De tatuar... De no teu colo deitar
Certa vez me disseram que as pessoas de orelhas pontudas são buscadores. Nunca me esqueço dessa história, principalmente pelo fato de que o real sentido de buscadores só me veio bem depois, no atravancos do meu próprio caminho. Essa busca me parecia algo inefável e inatingível. Nefasto, era o quão tacanho e arraigado era meu vislumbre, preso às amarras do mundo que não queria largar. Essa busca que cria (e recria) os buscadores é a busca da clarividência total. Um caminho que não vai pra frente nem pra trás, pura e simplesmente aprofunda. Um caminho pra dentro dos infindáveis níveis de descoberta da grandeza humana. A busca da verdade, daquilo que é, e não que “pode ser”. A busca do amor...
Ser íntegro, pela redenção e não pela rendição. Ser claro e escuro, luz e sombra e nunca pela metade, pra ver que só a luz que preenche a sombra. A sombra é o que guarda o retratável, que desenha o dizível para a constelação de elementos a conjugar uma imagem. A luz é o onírico... é o que transcende e transforma. O que toca todos os cantos indiscriminadamente por fachos de tranqüilidade e paz. Só a certeza de si que leva à paz, à calmaria. Buscar a integridade moral, mas a integralidade da consciência é o que faz de um ser um templo.
Quando se é, real e total, quando o homem sai e abre espaço para a manifestação da divindade é que se pode apenas estar, sem proclamar, sem urros de louvor vão. Não falo do silêncio aterrador que aglutina sussurros contidos por medo (somos todos ainda reféns disso)... Falo do silêncio e da calma real para afirmar-se, a despeito do outro. Foi o que disse Morihei Ueshiba, quando afirmou que desenvolvera um caminho que leva à Deus (Aikido).
O Aikido é uma prática que reconhece as variabilidades da manifestação humana e o quanto que a negação da sombra e das mazelas (não me agrada essa palavra) do homem, ainda cria um desequilíbrio na ordem própria das coisas. Marcialmente, quando há um movimento agressivo, ele o é pela desconexão com o sigo mesmo e pelo ímpeto diminuto de restabelecer o equilíbrio, com desequilíbrio. Assim, toda agressão é sempre um movimento desequilibrado em direção à outra pessoa. A busca do Aikidoista nada mais é do que ser o equilíbrio diante disso. Estar ciente de si e encontrar a concessão do desequilíbrio para o equilíbrio. Portanto, não há choque, não é bloqueios.
A única defesa é não ter que defender-se, pois não há competição, não há ânsia de subjugação. Note, a competição e a guerra são facetas do homem, estão em cada um de nós, e não do Aikido, por isso sua prática é tão demorada e difícil. Sensei Machida (Shinhan de Karatê) costuma dizer que o Aikido “antes de quarto nível (fazendo referência ao 4° Dan, quarto grau depois da faixa preta) não presta pra nada. Depois de quarto nível, você invencível”. É um caminho para encontrar a tranqüilidade.
Meu professor direto diz que não importa o adversário (uke). Ele não é seu adversário, você não quer matá-lo, você só precisa encontrar-se no conflito e realocar tudo na ordem do amor. Essa é a busca. Reencontrar o nexo maior com a sensação de plenitude que só o amor causa. “Os enlaces que a paz pode propiciar”.
Reflexões mais cuidadosas e com teor filosófico sobre o Aikido tem aqui http://teiavi.spaces.live.com/blog/cns!D4F93A7968FB02D2!320.entry
“O Aikido não confia nem em armas, nem na força bruta para ter sucesso; em vez disso, devemos nos colocar em sintonia com o universo, mantendo a paz nos nossos próprios reinos, nutrindo a vida e impedindo a morte e a destruição. O verdadeiro significado do termos samurai é aquele que serve e está ligado ao poder do amor.”
Morihei Ueshiba – fundador do Aikido.
Mais coisas velhas que "sem querer" me vem a vista...
"Uma mulher não perdoa uma única coisa no homem: que ele não ame com coragem. Pode ter os maiores defeitos, atrasar-se para os compromissos, jogar futebol no sábado com os amigos, soltar gargalhada de hiena, pentear-se com franjinha, ter pêlos nas costas e no pescoço, usar palito de dente, trocar os talheres de um momento para outro.
Qualquer coisa é admitida, menos que não ame com coragem."
Fabrício Carpinejar (2006)
Amanhecido
insandecido de dor
belamente apaixonado
escrevi isso pra diminuir a distância entre Niteroi e o Acará,
e tentar apaziguar meu coração.
Achei-o por entre outras coisas que não entreguei...
Em 23/11/2008
"Pudera eu dizer das coisas que não fiz, da noite que não dormi, procurando o teu toque por entre o travesseiro e o colchão. Não sou nada mais do que a dúvida do que serei ao teu lado. E cada minuto da noite sem descanso, foram na ambivalência entre a dor de não me seres companheira e a sede do teu sorriso. Como conseguimos nos perder nas eloqüências quando nossos corações se aproximam cada vez mais? Em que ponto a vontade de estar certo é maior que o amor que brota? Talvez não seja... Talvez seja só a sede do abraço que nos faz inebriados com coisa pouca. Talvez a distância me seja tão doída ao ponto de me entortar todo.
Hoje levantei (sem dormir) domado pela tristeza, no olhar sóbrio, nos ombros caídos, no andar cansado. Me retorci e me espanquei, só pra não dizer que... te amo. Sim... te amo. Te amo como se o hoje suprimisse a existência do amanhã; te amo como se já tivéssemos história, como se fossemos retrato de um sentimento; te amo como se tua mão na minha fosse um carinho no meu peito; te amor como se teu sorriso me ganhasse o dia.
Pensei nas chegadas e partidas. No medo do amor. No susto que me dá perceber que sou teu; que sou homem pra te fazer mulher! No pavor que me dá tudo isso. Me desfiz pra me refazer na caminhada e todo e qualquer exagero, instabilidade ou falta de calma é minha sede. Estou nu, com as vísceras de fora para descobrir do medo algo que me faça mais do que sou. Sou a entrega pela busca da contemplação plena.
E estou aqui, diante de ti, pra assumir o turvo, o nebuloso, a confusão. Atravessei mil portas pra te encontrar e assumo o desencontro... Assumo o medo dele. Mas não assumo o medo de atravessar, inclusive, as que quiseste fechar. Renuncio tudo, quantas vezes for, pra chegar no amor."
A Lei
"Melhor a viagem que nos faz vulneráveis do que a segurança que nos rouba o caminho."
Newton Bonder
A maternidade sempre me foi cais das mais esmeradas aspirações, e recanto seguro de retorno das efemérides da alteridade e das austeridades de fora de casa. Enaltecer o colo primário, me foi o solo fundante dos ufanismos que me impulsionou a tantas palavras, músicas, imagens...
É ademais instigador o quanto o anúncio incrustado desse laço moveu-se em territórios diferentes dentro do meu peito. Reconhecer o alcance e, principalmente os limites, do toque materno na geração de uma nova vida, uma personalidade é que me tem sido o enfoque neste momento de celebração. Levantar-me do colo para uma existência de pés nos chão e com o espírito nos ares maiores da plenitude é a busca do reencontro com a própria força.
Fazendo minha, as palavras de Sun Tzu, “força é a capacidade que se tem de colocar em prático o que se tem em projeto.” E é isso que me é a busca constante, reencontrar o que me foi tirado no ponto mais ínfimo e indefeso dos meus passos neste mundo. Abrir o peito para a realização individual, para fincar os pés num território incógnito e indefinido que é o espaço delimitado do é REALMENTE meu, nem mais, nem menos. Minha casa.
Ando na busca incessante (muitas vezes tola) deste colo arredio, já que destruí todas as possibilidades de voltar às origens. E assim honro a maternidade, reconhecendo o que é de minha mãe, e abrindo as portas do claustro pra que esse colo me seja presente pelos meus próprios braços, mesmo que ainda me solte (muitas vezes inconseqüentemente) nos braços alheios. Entrar para o retorno singelo à beleza da criança como um artista, como comentara outrora...
Torço os pontos para dar cabo ao agradecimento que não sai tão clara e diretamente. Obrigado. De todos, a busca de um patamar melhor, de um espaço mais amplo, é o que me ficou e está até hoje aqui.
Feliz dia das mães.