segunda-feira, julho 21, 2008


Do que Faltou

Faltou algo... Faltou vírgula, acento. Talvez vocativo, adjetivo, advérbio ou aposto. Faltou Insígnia, faltou momento. Faltou algo que me fizesse conter a vertigem dos pensamentos. Tomou-me a noite com apenas uma frase, com despretensiosa provocação. Entre as surpresas, a de que em tão incipiente abordagem me tomasse alguns tostões de atenção.

Será? Será que me graduei em contradição hereditária? Será que o desdém hoje é o regente as atitudes que me consomem os dias? Será que a solidão não me é mais digna de ser companheira?

Não sei... Não há muita eloqüência que resolva a inquietude ou que organizem as idéias para se ajustarem nas palavras. Talvez há muito do que se vê, e essa seja a maior das injúrias. Se há confusão no que se vê, é porque se vê algo, portanto estou dissonante do projeto primeiro, o da reclusão.

Não há de ser grandiosa a preocupação, mas algo me causou o tom de ofensa. Do dia pra noite vesti as calças dos homens que me precederam, e estou fadado a morrer frívolo por não saber o que é solidão, por não saber o que pode vir a ser estável e notável; por estar sempre tentado à determinada sedução. Não me fiz em valores, me jogaram na imagem tardia que terceiros guardam na cabeça como se fosse mais uma peça de encaixe.

Não... Não me encaixo. Aqui começo mais um parágrafo com “não” para responder negando que não sou o que querem fazer de mim! Por fruição de palavras maquiavélicas ou por simples olhar de descaso. Sou o que sou, e não mais vou me pôr a dar satisfação, ou satisfações. Amo quando amo, eu solto quando não me sinto amado. Vou embora. Mas não transformo o convívio em cardápio de opções, não Estou para elencar o sorriso da vez; sou para guardar outras vidas em mim. Talvez o mundo não me dê muito em resposta, e não seja realmente o protótipo do bom cidadão e precise de uma pitada a mais de presentificação, mas não tropecei na vala do descaso.

Talvez, realmente, o melhor remédio seja o silêncio.

Talvez, só me tenha sido espelho, no que viu do meu medo. Talvez por isso esteja me dando o trabalho de escrever. Por ter me visto no que me mostrou.

Cá estou, respondendo avidamente, mais uma vez, pra mim mesmo.

quarta-feira, julho 16, 2008


Com(tra)passo

em passo
ando em laço
em xeque
contra-tempo
mal compasso
entre termos
paradoxo
arritmía brutal
a que correm os pensamentos
que se dispersam os momentos
em imagens
lembraças
tudo quão memorativo
ou pouco celebrativo
possa conter nesse espaço
a cabeça corre
e ando...
a despeito do mundo
para coroar o descompasso
eu
em passos
entre desejos
e pequenos almejos
celebro o cidadão que me tornei
decreto a falência
resto de homem
bagaço
em esquálida poesia
o salto do torno
na luta contra garras que sugam
os ditames do rolo
que batem à porta
que perturbam a mesa
de alegria esparsa
interpostos entre o sorriso qualquer
entre passos
ante os gritos e mantras devassos
ando...
caminho
alternos os pés
me calo em passos.