terça-feira, junho 30, 2009


“(...) as primeiras imagens teriam surgido cumprindo diversas funções ritualísticas como a de reverenciar o morto. Um duplo daquele que se vai. Esta primeira fase, segundo Debray, a fase do olhar mágico tem o ídolo como tipo de imagem. Os homens desta fase inicial atribuíam poderes às imagens, delas faziam-se aliados como uma única forma de encontrar forças para enfrentar um mundo ainda desconhecido.

Quando os avanços técnicos e científicos conferem ao homem a possibilidade de maior apreensão do mundo, passamos para a fase do olhar estético correspondente à imagem como arte. “A arte chega à imagem quando a magia se retira” (Debray, 1994:34). Esta fase intermediária teria surgido no século XV com o aparecimento de coleções particulares dos humanistas e terminado no século XIX com a criação do museu público.

A terceira idade, o olhar econômico, tem como tipo de imagem o que o autor chama de visual, “começa logo que adquirimos pode suficiente sobre o espaço, o tempo e os corpos para deixar de temer sua transcendência” (1994:37). A invenção da fotografia inaugura uma longa transição das artes plásticas para as artes visuais. O aparecimento do vídeo marca a consolidação da era das imagens como visualidades, sendo a fase da computação e o seu coroamento.”

Luis Eduardo Achutti, lança mão da pressa reducionista de Régis Debray para elucidar uma sistematização que dê conta dessa história do olhar ou da imagem do âmbito das demandas sociais. É uma síntese que muito serve de didática, apesar de não chegar nem perto da pretensão de um tratado da imagem, pelos saltos nos momentos históricos e outras coisas.

Salientando a estranheza, acho que meu caminho com a imagem e conseqüentemente com a fotografia foi inverso... Saiu da objetividade desdenhosa e pragmática; passou pela estetização exacerbada; ao que hoje, adentra no universo da interrogação instigadora, e do desconhecido sensível, que se manifesta a cada momento gravado, à cada passo na busca do mágico, da excepcionalidade que brota da chamada realidade.

Que a luz traga muito mais no convite à experiência aberta para engrandecer a percepção da vida...


ACHUTTI, Luiz Eduardo. Fotoetnografia. Tomo Editorial, 1997.
DEBRAY, Régis. Vida e morte da imagem. Editora Vozes, 1994

Quando ver, não é olhar.

"Diego não conhecia o mar. O pai, Santiago Kovadloff, levou-o para que descobrisse o mar. Viajaram para o Sul.
Ele, o mar, estava do outro lado das dunas altas esperando.
Quando menino e o pai enfim alcançaram aquelas alturas de areia, depois de muito caminhar, o mar estava na frente de seus olhos. E foi tanta imensidão do mar, e tanto o seu fulgor, que o menino ficou mudo de beleza.
E quando finalmente conseguiu falar, tremendo, gaguejando, pediu ao pai:
- Me ajuda a olhar."

Eduardo Galeano. Livro dos Abraços, 1991.