sexta-feira, março 30, 2007



Lembro-me como se fosse hoje. Talvez hoje mais do que nunca. Caro Gilson, vulgo índio falando-me de sua situação com um outro ser. Após detalhes desnecessários e uma confissão de seus sentimentos pela moça que agora não me lembro o nome, indguei-o: "Mas cara, porque ela não larga o cara pra ficar contigo e acaba com essa enrolação?". E ele disse: "convardia, cara"! O Gilson nunca foi um aluno exemplar, por sinal cumpriu sua predestinação à atrasar-se com o movimento estudantil e, mais do que isso, no auge de minha arrogância, não lembro de ter colocado afirmação dele em lugar de reflexão mais longa em mim... Nesse dia, calei-me. Dei razão à ele. O faço novamente.

No ímpeto vigoroso de afirmar-se homem, correto, integro e tudo o que se deve cumprir, claudiquei. Nem pondero aqui as regras ou conveniências. Errei comigo. Seria fácil dizer que alguém me tomou a coragem, justificar com minha história minha falência. Não ouso fazer isso. Assumo a minha... Fui e estou sendo covarde. "Se alguém quiser vir após mim, que renuncie a si mesmo, carregue sua cruz e siga-me; porque aquele que quiser salvar a si mesmo, se perderá", esse foi o preceito. Quis me salvar e ainda preciso. Ainda estou prestes a perder-me na cobrança do mundo. Não sei em que esquina perdi o sonho, ou a crença nele antes do medo de errar. Mais uma vez reluto, mais uma vez me dou o direito do luto. Não sei! Não tenho respostas, mas antes que passe a ser determinado pelos meus atos, vou determiná-los. Largo tudo na covardia para não me ver obrigado a carregar na costa o mundo que não cheguei a criar. Por medo, falência, falta de força, isso só o tempo irá me dizer.

Me jogo novamente no abismo silencioso da incerteza, para experimentar as brumas da solidão. Só, comigo, sei o que sou. Só, comigo, só eu sofro, pra onde vou ou não vou.

Ainda não entendi... Começo a achar que vou demorar a entender. Mas um dia Ele me responde o que as reentrâncias de sua torta escrita quer me ensinar.

Estou aqui e ouso pedir-Te: mostra-me uma resposta à tantas perguntas!

E que "seja feia a vossa vontade assim na terra como nos ceus"
Nos limites do sectarismo, uma resposta em situações tidas como extremas.
Não é o extremo que faz a mudança, mas a vontade de mudar.
Ela aparece nos extremos, mas não se determina por eles.


"O Adeus virou chegada,
mãos dadas de outro lado
(...) Adeus,
começo às avessas"

..................O Adeus - Ana Clara Matos



Desculpas à Clarina. Achei q fosse do Alessandro. Fiquei feliz de poder te citar.

segunda-feira, março 26, 2007


Hoje pensei na morte...
Não, não pensei num afá byronico ou qualquer colapso de mal do século. Pensei como parte de um processo natural, um passo a mais. Me perguntei a manhã toda, como seria se tivesse q ir desta para outra, hoje. Como seria?
Algo há de felicitação no que indagava à mim mesmo na caminhada de volta à minha casa em plena chuva. Dei-me conta de que se tivesse que me ir no atual momento teria coisa a celebrar. Me imbui um projeto de imensidão imensurável. Por leviandade consigo, por medo, por arrogância, ou qualquer outra coisa a justificativa é algo que não me cabe neste... Tenho que, hoje, dei passos embassados e esboçados dentro de meu imenso e grotesco projeto maior. É... não rompi tanto assim com a moralidade, com a postura que se deve ter. Algo disso ganhou nova forma. Não nego, renego e nem esbravejo castelos apostólicos, ou fundamentalismos decorados. A igreja é hoje em mim, um conflito. Dia e noite, afirmação e negação, simultâneamente, um processo só de síntese.
Se tivesse que ir encontrar-me com o ícone da divindade (sem maniqueísmos, por favor) teria algo a dizer-lhe. Diria que antes de mais nada (em considerando a possibilidade de estar lá colocarei os verbos no passado) que amei. Me fiz poeta. Uns, definitivamente, me fizeram mais poeta do que talvez ache que merecesse, mas me fiz. Fui um boêmio das palavras e um virtuoso do coração. Intermitente, voraz, fulgaz, poeta.
Diriam além disso, que tentei ser homem. Menino eu fui, com certeza, mas que tentei ser homem. Com a sombra assoladora da ascendência, fui um misto de afirmação de mim na negação do passado. Me arrependo de ter usado a história de meu pai, pra me afirmar e renegá-lo. Mas assim, consegui autonomia para me realizar com pés MEUS nos chão. E tentei. Quis ser o exemplo da integridade que minha mãe sempre pediu. Tentei dar tudo de mim, para fazer-me orgulho de meus pais e irmãos. Para fazer-me exemplo de ser. Não reflexo de idolatria cega, mas fruto e consequência de um esforço eterno de ser poeta e ser íntegro. Escorreguei... Sim, escorreguei, mas um dia hei de perdoar-me por ter fugido tantas vezes à proposta.
Procurei teu equlíbrio. Muitas vezes consegui, outras tantas, passei longe de exergá-lo. Fui orgulhoso por uma glória que nem cheguei a ter. Disso, te peço perdão. Fui homem de paixões veladas, de desejos contidos e incutidos na clausura do esforço de inserir-me na lista dos escolhidos, mesmo desacreditando dela... Não, não desacreditei de tua existência maior; descartei preceitos de homens que se arvoraram a te resolver em tão pobre filosofia.
Agradeço, por cada dor. Elas me fizeram o que sou hoje. Destas, felicito-me dos acertos e lamento os escorregões. Vim e não deixei legado. Não tive tempo para completar meus passos do mundo. Vim, larguei-me de mim e deixei marcas. Não posso computa-las (e não é esse o objetivo), mas reconheço as sementes que minhas incertezas trouxeram. Homem das confusões, semeei a negação de si, nos poucos que pude repetir o que achei ser a interpretação da palavra atribuida a ti.
Não sei. Posso dizer-lhe que passei a vida procurando respostas, e perdi meus dias em mais perguntas. Nesta glória largo o pouco de mim que fiz e doo-me à posteridade para ser esquecido.

quarta-feira, março 21, 2007


Hoje, cito alguém não tão distante...
Para falar de tempos de revolução diária.
Talvez um comentário ao ceticismo e ao desencontro consigo, como na foto: "o filho do dono do mundo". Eu também não acredito num Deus que não saiba dançar...


Super-Homem
Rodrigo Braga
Música: Viés

Eu vos anuncio um super-homem
Eu vos apresento um super-homem

Longe dos seus conceitos que não sabe de onde vem
Longe dos seus valores impostos quando neném
Perto das novidades de um "Jorge Ben"
Me sinto bem assim
respeitando sincero à mim

A liberdade já me pretence antes de nascer
A liberdade que ainda me pertece depois de crescer

E o inconsciente coletivo é só uma prova do vem
do que vem a ser
Renunciei com medo e coragem à tudo
Até ficar um ateu e me encontrar no escuro
Eu ja cheguei a dizer que Deus tá morto
Mas ele renasceu de mim
inconpreensível e todo.

Vamo acordar
Vamo acordar pois o tempo não pára
Escuridão bateu mas logo a vida fica clara
Tudo sara
Tudo sara, sim
a vida é rara, é
mas qual será que vai ter fim?

Sou camarada de força
Força e batalha
O sol racha esquenta e eu não jogo a toalha, não
Tudo sara
Tudo sara, sim
A vida é rara, é
Mas qual será que vai ter fim, Zaratustra?

quarta-feira, março 14, 2007


Boa ressalva a se ter em mente, quando a lógica e a cognição é o fio condutor de tudo! Olhar as coisas que fazem o corpo balançar e tomar por cosmogonia uma paisagem viceral.


"é preciso que o pensamento de ciência - pensamento do sobrevôo, pensamento do objeto em geral - torne a se colocar num há prévio, na paisagem, no solo do mundo sensível e do mundo trabalhado tais como são em nossa vida, por nosso corpo, não esse corpor possível que é lícito afirmar ser uma máquina de informação, mas esse corpo atual que chamo meu, a sentinela que se posta silenciosamente sob minhas palavras e sob meus atos. É preciso que com meu corpo despertem os corpos associados, os "outros", que não são meus congêneres, como diz a zoologia, mas que me freqüentam, que freqüento, com os quais freqüento um único Ser atual, presente, como animal nenhum freqüentou os de sua espécie, seu território ou seu meio. Nessa historicidade primordial, o pensamento alegre e improvisador da ciência aprenderá a ponderar sobre as coisas e sobre si, voltará a ser filosofia"

MERLEAU-PONTY, Maurice, O olho e o espírito. São Paulo: Cosac Naify, 2004, pp. 10-11