sexta-feira, janeiro 23, 2009


Esses tempos tenho me dado conta de quantas incertezas são feitas todas as certezas. Talvez já tenha me dado à vista esta reflexão, mas não havia trazido à uma consciência mais concreta e real. Tudo o que se quer em aprisionamento, mais fugidio se torna, e dentre estes solto minhas certezas, para dar-me o direito de nascer e morrer todo dia. Não bem sei ao certo se terei força de destruir tudo ao menor sinal de cupim, mas estou pela celebração da destruição, da renovação.

Se trago algo a comemorar, ponho termo à uma vida nova. Congratulo a aspiração de um novo dia, todo dia. O primeiro suplício de um novo ser que acordou das entranhas do estranhamento, no enamoramento, do encantamento, da surpresa que se fez momento. Estou, não por um quarto de década, mas por um dia a mais na busca das reentrâncias do córrego que minhas águas seguem. Por fazer de cada momento de expressão um louvor ao novo, à arte e ao desejo.

Que a força criativa seja sempre o mote de todas as conquistas e desconquistas. Que quando eu tenha algo, que eu solte, pra sempre saber que não tenho nada, além de mim mesmo, na dança do mundo. E que nesses entremeios, que eu ache um pouquinho de paz, num colo gostoso, num abraço zeloso. Que eu me realize no cuidado de alguém. Que eu divida minha vida no amor. Que meu amor receba, pequena, minhas desmedidas declarações desalinhadas e anúncios apaixonados de peito aberto, pra alimentar a alma. Que a pequena me seja paixão por muitos abraços a mais.

Que não tenha termo...
Que não tenha tento...
Que não tenha limite...
Que seja real
“Que amor não desperdice”
Que eu seja mais esse sorriso aí.
Que seja eu...
Um novo a cada dia, a contar de agora.

sábado, janeiro 17, 2009



Diário de Bordo

E o que pode ser mais intenso que a beleza da contradição? Reencontrar-se com os do ninho, com as primeiras portas pro carinho, pro amor. A casa de toda desavença e cerne dos avultosos quiprocós. A casa.

Como um susto que convidam todos de dentro dos seus quartos pra sala, as datas comemorativas nos logram a convivência pela celebração de algo maior, e nos lançamos na missão de reconhecer-se insano no meio dos seus. E vejo que há muito mais em meu pai que seu medo de parecer fraco. Ele alcança um sorriso belo, ainda com seus olhos entreabertos, quase fechados, quando reúne a prole.

Nós, os homens, arrolamo-nos nos descaminhos das PA’s e BR’s na busca de algo mais que a pura e simples chegada. E me vem aos olhos a emoção de adulto, ao ver que há amor nas atitudes discretas e veladas; por detrás do desdenhoso fúnebre cafagestismo que ele assumiu pra si. Homem velho tão machucado, querendo voltar à inocência nas escolhas mais tortuosas. E atrás do arvoro e do medo, tem uma sede de se entregar. E ele se entrega – até o limite permitido – aos filhos. Comungamos de uma parceria momentânea e cênica que reuniu coração numa integração real.

Íamos como adolescentes numa cruzada de desbravamento. Ele, o capitão, eu e meu irmão seus fiéis escudeiros. Alternávamos a vice-presidência do co-piloto, e descobríamos conversas, não muito novas, mas reconhecidamente confortantes. Sem muitos saudosismos e viagens astrais... Somente a factibilidade do momento como o era, direto, companheiro e concreto. Entre as ausências do coração, nos preenchíamos dos risos, das brigas, conversas e silêncios. Não... Nenhum era evoluído em demasia, desde a última vez que nos encontramos, para dar exemplo de conduta. Só estávamos mais vicerais e, sem notar, mais sedentos de parceiros de sangue.

Estivemos, nós, um trio de verdade. Pai e filhos. Ouvimos reggae, pop anos 80, e uns sambas. A proposta era unir as diferentes vertentes, integrar. E nos entregamos. Mesmo eu, tão relutante. Pude perceber mais meu irmão na presença de meu pai. O quanto ele se cala nas nossas conversas, e pude vê-lo lançar-se a ocupar o centro das atenções por mais que cinco minutos. Declarou-se também às traças do desamor a que parecemos estar fadados e voltou a sua inocência com a capacidade afável de arrancar sorrisos de duas pedras. Estes eram momentos em que parecíamos crianças. Na verdade, parecemos crianças, companheiros, navegantes, amigos, adversários, empresários, amantes, padres, e outros que não cabem computar.

Para além do fortalecimento de laços da família branca cristã e altruísta, fomos homens em parceria, nos limites que nos propusemos. Para perceber a vontade de estar junto e que nem tudo é tão escancarado como poderia, mesmo assim ser possível identificar um traço de verdade e carinho profundo.

É... me vendi. Por alguns sorrisos, efêmeros, abri mão da minha verdade por momentos. Mas me banquei. Defendi o que acreditava mesmo que isso nos levasse aos impropérios. Que nos levaram aos silêncios... Mas antes de contabilizar sucessos ou insucessos, fomos nós. Íntegros e reais, em reconhecimento de uma nova etapa. Fomos parceiros e companheiros num vôo dicreto e singelo como há muito faltava.

terça-feira, janeiro 13, 2009


"que poderia ter sido dela"

E as cordas se entrelaçavam ao ponto de corte, nos elos de junção das vias que sustentavam os corpos a balançar. Presos pelo punho, a rede deitava-se ao vento, no ar suspenso no chão.
E nada a mais havia de ser feito; nada a demais poderia servir de enfeite, senão a singela entrega despretensiosa no escurecer, no findar das aspirações vespertinas, em alegria noturna. A tarde se esvaía e o tempo vertia seus ponto em marcações desmedidamente desajustadas. Não tinham nada... Segundo, minuto, ou hora marcada. Se despediam do azul como de despiam as nuvens alegóricas que compunham a apoteose do pôr-do-sol atrás das águas do rio.
Não... Não se podia ver o sol. Ele se punha por detrás do monte de concreto. Mas, na varanda, sabia-se dele... Silencioso e grandioso pela onipresença. Mas da varanda a única coisa que pairava era a calmaria. O universo girando em torno de suas desdenhosas ambições enquanto, na varanda, o intervalo do encontro completo se dava. Nada demais. Deitados na varanda.
O vento. O despedir da tarde. A medida do abraço. A contemplação do laço.
Na varanda. A rede. Enquanto a tarde cai...


faça um dia de domingo...
no universo qualquer
na banalidade a mister
faça um dia de domingo
nas asas do vento
ou no passo fraco do flamingo
esteja sempre em sorrisos
em salas díspares
em cadeira uniformizadas
faça um dia de domingo
faça você um só querer
faça todos o seu queres
em versos, em frases
em palavras em crases
e se puder
e depois do intervalo
se houver
"faça um dia comigo
"