domingo, dezembro 31, 2006

*cena do filme “O Fabuloso Destino de Amelie Poulain"

E Acordo Sozinho

Entre os pelos da tua nuca
de novo não sou
o que virá
por quanto sonhei
por tanto esperei
que chegasses demais
que o medo de deixar-te ser

mais
que eu nunca fui
da cor
que seríamos nós
da nascente a foz
se morassemos um

a viagem de vivaz
quando a luz se desfaz
no esboço do teu
corpo luz que não
será meu

e quando lembro de ti
das palavras que moram
em meus dedos entoam
os detalhes de ti

que guardo em canções
pra desfazer a ilusão
de que esta noite
ao meu lado, dormes

esperando a manhã
para sermos a mais
o que numa vida
não caberia de nós
pobre ilusão do rapaz

quinta-feira, dezembro 28, 2006

"Quiçá ainda nesta vida teremos consciência e coragem de fazer eclodir em comportamento a mudança que conjecturamos em sonho!"
http://ubbibr.fotolog.com/ffatuo/?photo_id=15557149

E ponto final.
Almejo para 2007.

terça-feira, dezembro 26, 2006

Blues de um esquecido

A voz
foice fogueira de nós
tropeços entre as calçadas, algoz

E passeio entre os armados de concreto
Evasivo no lamento discreto
Na companhia atroz
da virtuosa ilusão solidária
da literária pulsação
Falta de vida diária
do porto de lágrimas sonoras
minhas desilusões solitárias

e visito minhas ânsias de outrora
nada me toma
de certo a aurora
E entre os passos do passeio
retorno...
Remonto as indagações do esteio
Do garoto que se foi nas paixões

A porta de casa é sempre ânsia de retorno
nunca mais janela para o novo
Quem matou a paixão do menino-homem que fui?
(da mulher menina que não me inclui)

Me revisito
nas esquinas que não grito
empobrecido do gemido
que a vida tirou do meu peito.

Que faço com a sobrevida que criei?
Esqueci de viver...

sexta-feira, dezembro 22, 2006


Fechando a janela, atrás da grade

Enquanto ele te toma os afazeres
tu me tomas o coração
e no fim de tudo
não me restará nada senão a solidão

Descreves tua vida
e prescreves meu futuro
quiçá retonarei o plumo
para minhas mãos

Quando acordaste
teu suspiro te avisou de nós
Não mudaste por medo
ou paixão algoz?

De certo te deixo, hoje
com o ardor da febre que ferve em teu nome
Não tomarás mais pesadelos
de mim, pobre homem

Vais a bailar os passos da sofisticação
pra perder e escolher negar
os caminhos dessa perdida paixão;
os descaminhos da tua sórdida fome.



"Se eu soubesse antes o que sei agora
iria embora antes do final"
Humberto Gessinger

domingo, dezembro 17, 2006


Porta e janela

Hoje encostei na porta perto da janela
O vento soprou forte e senti o teu cheiro
E por instantes tive a sensação de termos sido um do outro
De teres sido minha
De termos durado por quase uma vida

Vi a repetição vazia de algo que não aconteceu
Pura fantasia
Que pena, meu amor
Minha querida
Tua mão estava tão bela ao lado da minha
Parecias perfeita
Perfeitamente projetada para cair em meus braços
Se perder no meu colo

Ao sair, no corredor
Ainda teu cheiro
Ainda a cor bela dos teus cabelos
E mesmo tendo passado tão rapidamente
para matar a saudade
de teimoso, vou guardar teu sorriso na minha mente.




mais um antigo...

quarta-feira, dezembro 13, 2006


E eis que você chega!

(O texto que completa "Quando você chegar" )

E poderia ser como outrora já foi. Ele sentado, calado, consternado. Enquanto finge que espera, se engana nas alusões imagéticas que sua mente o aponta. Não sabe mais de si como antes e não seria próprio dele se soubesse. Resguarda-se na insolência e inconseqüência de ser mais um do que nunca quis ser. Remexia o café no copo como se quisesse que esfriasse. Pudera o vapor que desenhava a umidade em seu rosto não tomar a forma dela. Podia sentir seu cheiro sem esperar. Aquele cheiro tomou conta do ar! Pra ele, tudo era ela! Ela tomou conta da luz como se fosse o dia. Era simplesmente uma vontade. E logo essa vontade lhe tomou conta da sanidade.
Detinha-se apenas em viver e cumprir seu projeto previsível. Previu tudo o que queria pra si como se planejasse uma viagem. A viagem, era sua vida, sua alegria contida. Nos momentos que teve de responder ao mundo, perdeu sua jovialidade. As querelas humanas roubaram dele sua prospecção divina, sua pulsação por dimensões outras que aludissem sua carnalidade à um patamar de possibilidades engrandecedores. Esqueceu-se de si nos sonhos. Esqueceu-se de seus próprios sonhos. E até o ponto de choque, a crise de revolta própria, esteve enclausurado no bom cidadão. Deixou-se apoderar os braços as forças imaginárias e dominadoras do exercício para o bem comum. Cedeu seu corpo à maquina maior. Era assim, até ela...
Em seus olhos hipnotizados, não a viu. Deixou-a passar por um já quase inerente descaso. E passou. Mas indecisa, retornou. Convidou-o ao conhecimento. Parecia um bom rapaz. Se tornara um bom rapaz. Talhou-se bem aos olhos da moça e sem se dar créditos maiores, deixou-a entrar. E começaram o que não deveria, desde sempre, deixar acordar, emergir. Ela era ela, não se importava muito com muito. Vivia mundana em reposta ao seu esquecimento leviano. Bela e entre muitas, para ele foi um recanto. E enrolaram-se em ambos. Entrelaçaram-se nos mantos. Encontraram-se, corpos e prantos. E como há muito não acontecia tomou ele pra si. Cuidou dele em seu colo. Pra ela muitas coisas não importavam, mesmo que importassem à ele. Ela queria ele. Ele se salvava nela. Tomou-se de paixão, pobre homem.
A luz pela janela atrás da bancada, só o remete ao primeiro momento com ela. Iluminava o copo e pouco mais que dois dedos de sua mão. Iluminava seus pensamentos entre a satisfação e o lamento enquanto ela entrava. E vinha como a resposta aos seus pedidos e desejos. Caminhava com simplicidade por todo o saguão, e na alternância de suas pernas era possível imaginar suas coxas. Perdia-se, inclusive do café, na cena que acontecia. Ele enfim, levaria ela ao sonho que vivia em estar ao seu lado. Deslocaria ela de seu leito e descolariam-se os dois da realidade, que agora já não quer mais. Viajariam para longe. As pessoas passavam a seu turno e para seus rumos. Ele perdia-se nela. Ela queria ele. Os dois esqueciam-se de ambos em ambos. E se chamavam de “amor”.