terça-feira, dezembro 15, 2009

A cada passo que alterna os pés na rosa dos ventos, mais pulsa o ar que nos interpõe. O lodo escorregadio no chão da velha casa que criamos, cresce à medida que o silêncio continua a ser a cor das paredes... Do mesmo ninho, desgarramos e desbravamos vozes, linguagens, ritmos, dessabores, imagens e água, muita água. E posso vê-la empoçar no latão velho perdido nos entulhos que esquecemos de arrumar. E quisemos esquecer. Quisemos deixar. Hoje renascemos de tantas cinzas quanto o coração humano consegue suportar. Fomos ombro um do outro, num amor dos mais confusos e estranhos que já pude tocar. E sim, endurecemos. Com medo do escuro, nos escondemos em crostas de indiferença, em venenosas e ferinas palavras, em tão frágeis berros que tocaram com fogo o claustro fundo da dor. Do monte alto de tantas aflições fizemos parceria na guerra e dividimos sorrisos, com tão esfarrapadas desculpas para ficar perto um do outro.

Mas o hoje é tempo de adeus. Tempo de ir. Tempo que não se conta e mal se dá conta. Quando vi, éramos outros, intercalados pelo vão das palavras não ditas; dos cômodos que não se visitam. E só estamos... Antes mesmo de partir, estranhos. E só eu sei o quão alto me custa a dor de ainda dividir a geografia e não dividir o coração. De termos tamanha contiguidade territorial e tantos limites perigosos, pactos de fria paz.

Há tanto que queria dizer. Quão é almejado o espaço pra te mostrar o que aprendi não há como dizer, apenas deixar as chuva molhar o rosto. E ver-te em vista trêmula com os olhos vermelhos, com o punhal no peito e o sorriso no rosto. É, em mim, um zumbido agudo e ininterrupto esse impropério. Não passa e me acompanha apitando entre os carros, as pessoas falando, a vida “levando”. Nunca quis, nem quero, roubar tua casa, teus brinquedos e teu princípios. Não quero arrolar sobre teus olhos os meus olhos, os meus pontos, o meu tempo. O tempo é só o agora e ele passa deixando um vão abissal entre nós. Eu vou e deixo-te com os pretos velhos e as armas de Jorge; com sua capa vermelha e flamejante na luta com teus dragões. Os meus quedaram moinhos de vento, pra descobrir outra medida que não a fatalidade profetizada, e eles me aguardam fora daqui.

Da dor da ausência, a tua já me é a maior

2 Comments:

Blogger Diana said...

quero te ver! onde estamos nós?

16 dezembro, 2009 00:29  
Blogger linhaboémia said...

ai..que o primeiro erro estava a não me fazer seguir o blogue :( "dessabores / dissabores.

15 junho, 2010 15:41  

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