quinta-feira, novembro 30, 2006


Mais um desabafo de efermidade.

Há um bom tempo não me visito como um ente literário. Quem sabe retorne a verter palavras com já o fiz em muito outrora. Não consigo. Sempre penso que estar em casa com justificativa plausível para fazer nada, seria um bom recanto para escrever. Devaneio leviano! Nestes dias, minha licença para o canto enfermo de minha casa não nutriu nenhum apreço por palavras belas ou idéias novas. Algumas coisas. Novos acordes, propostas para novas canções; mas poucas trovas, pouquíssimas trovas concretas.
Passo o dia inteiro escondendo-me nas alusões utópicas dos contos de fadas contemporâneos televisivos. Chego a cogitar, que minha falta de palavras é pura e simplesmente falta de vida. Conseguiria arrumar pelo menos quatro justificativas plausíveis para me conter no confinamento do vazio de idéias. Mas não me contento, não consigo, não posso! Não escrevo, esse é o fato. Quando forço, as palavras danças numa arritmia tão absurda, que me dá vergonha de ler novamente.
Chego a supor, que na minha falta de vida, meu excesso de banalidade, de cotidiano robótico, me escondo nos quadros imaginários de meus sonhos perversamente irreais, fugidios. Embriago-me, como os loucos que critico, na alucinação de ser minha a vida dos personagens que aprecio. E me perco... Me perco... Jogo-me na imensidão como um suicida sedento por acalento, da vida que não tenho. Alimento-me dos textos alheios, dos relatos virtuais, das fotos “fotologais”, dos registros de vida que não tenho. Descanso, sozinho. Me acompanham, alguns. De longe; quando perto, ainda de longe. Há quem deite comigo, mas não divide, não ser realiza em meus sonhos, em minha abstrações como um amigo. Na verdade, me inspeciono por dentro enquanto me esqueço que quase ninguém vê que minha ferida é, além de física, mental, emocional, comportamental... E pereço. Na quase vida, feneço.

quarta-feira, novembro 29, 2006


Escrevi isso a pouco mais de um mês, em celebração ao trabalho social exercido pelo Jardim da Oliveiras junto às crianças do bairro da Castanheira.


E teimamos...
mesmo com toda a dificuldade
mesmo com todo senso de realidade
mesmo quando a luta parece perdida
somos...

E teimamos...
insistimos em ver futuro na tenra idade
em crer que é possível tocar a felicidade
que há bem mais que dentes nestes sorrisos

E sonhamos...
que talvez um dia não precisemos dessa euforia
que nosso esforço sustente contra o Golias
que sejamos homem por uma vida mais humana

E somos teimosos sonhadores...
teimamos em crer nesses olhos em meio ao inóspito
em ver neles bem mais que dejetos urbanos
em investir em futuros seres humanos.

quinta-feira, novembro 23, 2006

Foto: Hélio Machado

Desabafo

Às vezes fico impressionado com minha capacidade de ser cruel. Como um ser humanos que carrega tanta poesia nas veias pode ser tão maldoso e ainda sentir-se orgulhoso de si por ter tal alternativa? Parece que toda a sutileza pode sumir para um impulso fervoroso de calma calculista e destrutiva ou de explosão de cólera. Chego a me questionar se minha gentileza que às vezes sobressai de forma tão natural, não é apenas capa ou cena para algo.

Não importa! Existem certos ponto que, se tocados, tudo o que antes era belo e tranqüilo acorda nas brumas do esquecimento atropelado pela fúria irradiadora. Não sei como responder. Acontece, apenas acontece. Quando vejo, já fiz! Tenho de lidar com a culpa por o ter feito. Quantos vasos quebrei, não consigo enumerar. Mas posso sentir o peso de cada olhar que feri. E feri mesmo! Com vontade. Me arrependo, mas também entendo bem porque fiz...

Na verdade, quero crer que tudo é fruto de minha situação enferma momentânea. Ou na verdade não quero ver que esta situação passageira só trouxe à tona o que perpétuo repousava em mim. Não sei. Não quero ser qualquer, mas acabo sendo quando. Não sei se preciso repensar minha vida toda, ou deixar passar a tempesdade toda.

Que a força me ilumine...
Soneto de tristeza matutina

De volta pra casa
Adormecer nas sombras.
na falta de luz
à lua, cortas as asas

Descer da copa das ávores
esquecer do morto
abandonar o adorno
pra só onde existem lares

Na consciência clara da ilusão
onde a dor tras a sorte
abraçando a morte e a solidão

Quase desinente, desistente
de tudo a que a felicidade faz alusão
De todos os sorrisos persistentes

segunda-feira, novembro 13, 2006




E como saberia?
Afinal, eu já sabia
sabia que doía...

E me meti aqui
me aconcheguei perto de ti
E te quero...

quando muito,
perto
senão, colada!

Te quero querendo de mim
algo mais que minha barba
flores num vaso de lata.

Eu previ
desde quando te vi
que teria dor nos traços dessa virada

enclausurado na luta
entre o que sou
e o que talvez deveria ser.

Não estou curado
não sei por as coisas de lado
não sei ser leve

Que a agonia me leve
no ônus da inércia inconsequênte
O preço de um coração que mente.

e que venha a tempestade!