sexta-feira, abril 18, 2008



Olha...

Estou aqui. Se somos, fomos, ou estamos, não sei, mas estou... Não era claro que as inferências vespertinas fossem fazer da convivência apreço discreto em surpresas à esmo. Talvez por isso esteja assim.

E há loucura no encontro vespertino que me impôs a chuva. Que tornou-se desvelamento inconsequente e reconhecimento inesperado, à medida que a noite chegava por trás da água, que insistia, não parava.

Escrevo pra desgastar o enamoramento que teus olhos me raptaram, quando ultrapassei as colinas andinas que guardavam a vista da tua casa. Não a que estás agora... Tua casa de palha, onde revoam a borboletas e atravessa serelepe o niño porteño que carrega no sangue o ímpeto dionisíaco e a marca do amor de deus. É nela que moras? De pés n'água, braços pro céu na sombra de madeira e palha? É nela que te encontrei.... O céu derramava-se em destino incerto em incontáveis horas, em claudicantes confidências, enquanto balbucitava tropeços desnudos no topo da colina. Topofilia na qual começava a enxergar os primeiros traços desse recanto bucólico sob o toque do sol. O vento carregava voraz o som clandestino que pairava no fulgor hermano. Ressoava teu vazio "impreenchível" pela prepotência e exagero citadino. Ele (o vento) descia vale abaixo levando meu olhar à inquietude tácita que tomou conta dos teus cabelos. Longos, libertos, leves, libertinos... Soltos como pluma, com cheiro de terra, de palha fecunda, de toque na mão; cheiro de vida!

É nesta aquarela sinuosa que se realiza a pulsação lancinante e fantasiosa que tua gargalhada vigorosa fez nascer aqui entre estes livros, estas idéias. As palavras andam no papel para dirimir a interrogação da tua boca, e sanar aqui os vestígios passionais e o platonismo viral que me atravessou o peito inconsequente e jovial.

Atravessara o limite que me impuz... Tua voz deixou de ser tão rouca e teu olhar mais quieto, só naquele momento. Já não me vi mais no universo confuso da deliberada simpatia alheia. Me senti "tolamente" convidado à reconhecer as aspirações que tua vontade exalava por novos ares, uma racionalidade nova, pessoas ímpares...

E, artista das sombras, fui tomado por doses de saturação num mundo tendenciosamente monocromático. E concebi a visão que não queria ter; a imagem impedida de nascer. É essa a tela... A chuva, a natureza, a contemplação. Faltou você nela. Faltou você comigo para curtir o desenrolar do apreço superlativo por sobre as leis e os medos vencidos. A explosão passageira da vontade, acima de todos os problemas.

Silhueta na janela, a chuva, a casa de madeira. Faltou você...

"Faltou", no passado.

Passou...

quarta-feira, abril 02, 2008

Hoje é quase sobre a Arte.

É o que manifesta a distância, o que nos faz em longínquas latitudes de divergência: a Arte. Ela que se tornou a edificação da direção oposta que minha vida toma em relação às decisões que ele tomou. Minha sensibilidade, embora pareça à sua vista dantesca e grotesca, encontrou casa na arte. A tensão entre dor e amor que ele insistiu em me provar ser mínima, permanece ante meus certos e errados, cada qual em seu lugar.

Não sou matéria objeto de minhas frustrações, não sou dejeto das desilusões. Não, não sou, e a arte me serve de recanto. Se hoje é sobre ela, falo dela. Quanto mais marcas me faz a vida, mais linguagens acumulo no sentido de canalizar os impropérios que supostamente me trariam a gelidez, a frieza, a tratar a vida não como luta, mas como guerra. Assusta-me a dureza que defende suas cicatrizes. Rebocou carradas de pedra entre si e o mundo na vã hipótese de se isolar de tudo o que possa parecer violento em demasia à sua fraqueza.

É... ele tem fraqueza! A dependência na forçosa aparência de força é sua fraqueza. Não sente pena de si. Não sente nada... Ele enclausurou-se na festiva ilusão do EGO mundano, na deficiência jovial da cidade. Na fuga de natureza qualquer.

Eu sou fraco. Sou fraco quando me deixo tropeçar na acidez de seu sorriso e venho aqui requentar minhas lamúrias. A dor tem valência, mas o que regurgito são lamúrias... São porque são delas que nasce o diferencial. Minha raiva aquece minha mão e me fazem ferver as palavras pra que explodam em realização. Mas é valor de devir. É para o amanhã. Da minha fraqueza que nasce a riqueza. Valor de posteridade. Não me guardo pro agora. O "agora" já foi! Se perde à cada vírgula. Me maturo pro eterno, o que não tem fronteiras. Isso o mundo não me toma, como tomou dele! Meu transtorno é fruição de retorno. Às vezes é argüição do que há em torno... Mas é força de devir. É para o amanhã.

Minha raiva hoje, me imperializa entre os homônimos, entre os de diferença suprimida, o coro dos contentes. Minha raiva reacorda a escrita adormecida, que de pouco me irá servir funcionalmente neste mudo de razões práticas. Minha raiva adormece meu pragmatismo e transforma meu grunhido em palavras enfileiradas, para coroar que não sou o que meu pai pensa que sou. Não sou ele. Não sou da guerra, sou da luta, e a arte refuta qualquer possibilidade de falência hereditária.

Voltemos ao nosso silêncio intransigente!



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depois corrijo os erros de ortografia.