sexta-feira, maio 15, 2009


Certa vez me disseram que as pessoas de orelhas pontudas são buscadores. Nunca me esqueço dessa história, principalmente pelo fato de que o real sentido de buscadores só me veio bem depois, no atravancos do meu próprio caminho. Essa busca me parecia algo inefável e inatingível. Nefasto, era o quão tacanho e arraigado era meu vislumbre, preso às amarras do mundo que não queria largar. Essa busca que cria (e recria) os buscadores é a busca da clarividência total. Um caminho que não vai pra frente nem pra trás, pura e simplesmente aprofunda. Um caminho pra dentro dos infindáveis níveis de descoberta da grandeza humana. A busca da verdade, daquilo que é, e não que “pode ser”. A busca do amor...

Ser íntegro, pela redenção e não pela rendição. Ser claro e escuro, luz e sombra e nunca pela metade, pra ver que só a luz que preenche a sombra. A sombra é o que guarda o retratável, que desenha o dizível para a constelação de elementos a conjugar uma imagem. A luz é o onírico... é o que transcende e transforma. O que toca todos os cantos indiscriminadamente por fachos de tranqüilidade e paz. Só a certeza de si que leva à paz, à calmaria. Buscar a integridade moral, mas a integralidade da consciência é o que faz de um ser um templo.

Quando se é, real e total, quando o homem sai e abre espaço para a manifestação da divindade é que se pode apenas estar, sem proclamar, sem urros de louvor vão. Não falo do silêncio aterrador que aglutina sussurros contidos por medo (somos todos ainda reféns disso)... Falo do silêncio e da calma real para afirmar-se, a despeito do outro. Foi o que disse Morihei Ueshiba, quando afirmou que desenvolvera um caminho que leva à Deus (Aikido).

O Aikido é uma prática que reconhece as variabilidades da manifestação humana e o quanto que a negação da sombra e das mazelas (não me agrada essa palavra) do homem, ainda cria um desequilíbrio na ordem própria das coisas. Marcialmente, quando há um movimento agressivo, ele o é pela desconexão com o sigo mesmo e pelo ímpeto diminuto de restabelecer o equilíbrio, com desequilíbrio. Assim, toda agressão é sempre um movimento desequilibrado em direção à outra pessoa. A busca do Aikidoista nada mais é do que ser o equilíbrio diante disso. Estar ciente de si e encontrar a concessão do desequilíbrio para o equilíbrio. Portanto, não há choque, não é bloqueios.

A única defesa é não ter que defender-se, pois não há competição, não há ânsia de subjugação. Note, a competição e a guerra são facetas do homem, estão em cada um de nós, e não do Aikido, por isso sua prática é tão demorada e difícil. Sensei Machida (Shinhan de Karatê) costuma dizer que o Aikido “antes de quarto nível (fazendo referência ao 4° Dan, quarto grau depois da faixa preta) não presta pra nada. Depois de quarto nível, você invencível”. É um caminho para encontrar a tranqüilidade.

Meu professor direto diz que não importa o adversário (uke). Ele não é seu adversário, você não quer matá-lo, você só precisa encontrar-se no conflito e realocar tudo na ordem do amor. Essa é a busca. Reencontrar o nexo maior com a sensação de plenitude que só o amor causa. “Os enlaces que a paz pode propiciar”.

Reflexões mais cuidadosas e com teor filosófico sobre o Aikido tem aqui http://teiavi.spaces.live.com/blog/cns!D4F93A7968FB02D2!320.entry



O Aikido não confia nem em armas, nem na força bruta para ter sucesso; em vez disso, devemos nos colocar em sintonia com o universo, mantendo a paz nos nossos próprios reinos, nutrindo a vida e impedindo a morte e a destruição. O verdadeiro significado do termos samurai é aquele que serve e está ligado ao poder do amor.”
Morihei Ueshiba – fundador do Aikido.