No Meio dos meus desejos de infância, me surge isso... “(...) A arte faz-se com as mãos. Elas são o instrumento da criação, mas, antes do mais, o órgão do conhecimento. Para qualquer homem, já o demonstrei; para o artista, mais ainda, e segundo vias particulares. Porque ele reinicia todas as experiências primitivas: como o Centauro, saboreia as fontes e as brisas. Enquanto nós recebemos o contacto passivamente, ele procura-o, testa-o. Contentamo-nos com um saber milenar, um conhecimento automático e talvez já embotado, escondido em nós. Ele leva-o para o ar livre, renova-o – parte da origem. Não acontece o mesmo com a criança? Mais ou menos. Mas o homem feito interrompe essas experiências e, porque é “feito” cessa de se fazer. O artista prolonga o privilégio da curiosidade da infância bem para lá dos limites dessa idade. Ele toca, apalpa, calcula o peso, mede o espaço, modela a fluidez do ar para aí prefigurar a forma, acaricia a superfície de todas as coisas, e é com a linguagem do tacto que compõe a linguagem da vista – um tom quente, um tom frio, um tom pesado, um tom profundo, uma linha dura, uma linha suave.(...)”
FOCILLON, Henri. O Elogio da mão. In: FOCILLON, Henri. A Vida das formas. Ed Edições 70, pp. 115.
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