E o poeta levanta os olhos dos arranhões na mesa, vira-se à moça, segurando seus sapatos novos, e completa o interlúdio docemente:
- As injúrias das longínquas professias, se desfizeram embaralhados no esteio que te puseram nos fatos. Como se teus dias fossem pura e simplesmente uma sucessão de fatos, cadenciados na vontade de outro... Uma supraorgânica tendência de encruzilhar-se entre factíveis desejos e voláteis ensejos em busca da raiz que sustenta o caule.
É, minha cara... Estamos perdidos. Os dias continuam a passar.
A casa que procuras nos olhares apressados, não vão te dar nada além de uma vontade não realizada do amanhã. E pode largar a idéia de que há algo no ar que te entorpece. Os ventos do mangue se renoram sempre, não corres perigo maior do que ter de ficar aí, prostrada me ouvindo devanear sobre as injúrias que nos impôe o destino. Só insisto, quando noto que suas visitas tem me causado alegria enorme. Suas infindáveis histórias, e o falatório frenético sobre todos que passam me trazem um tanto a mais de sorriso a comungar o que não vivo, o que é do meu mundo. Me ajudas a limpar a mesa, cheia das minhas bagunças escritas, dos meus pedacinhos da nova vida que se ergue diante dos olhos inebriados dos expectadores desdenhosos.
Senta. Prometo não ser tão chato, hoje. Tua amizade é o carinho que me faz companhia, nesta chuva. Deixa eles passarem... Eles vão e vem.
Vou passar o café...
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