quinta-feira, fevereiro 19, 2009


E chegou meu carnaval

Nos últimos dias, me dei ao afundamento nas mazelas do desamor que me impus. E lancei toda minhas querelas no ar, pra transformar o que não se pode realizar. E é nesse ínterim que reacorda as luzes do passado que se transmuta, se transveste, de diversas formas pra remontar que não só de lágrimas me foram os outros carnavais. Não somos sucessivas falências e minhas lamúrias não são o que me define. De fato não há o que se use para delimitar em idéia, ou definir uma existência. De certo somos fruto do que nossas paixões nos fizeram e se não fomos paixões, não fomos nada, somente projeto de ser; somente idéia de realização que chora o que não existiu.

Foi isso... Com salvo conduto nas intermitências vertiginosas da insegurança e na insalubridade turva da dor, me pus a atravessar o vazio que encontrei diante de um excesso de fatos e carência de vitalidade, de vida. Chuva de palavras e carência de abraço... E há satisfação na consciência trôpega que levanta aos passos desvalidos por encalços da alteridade. É ver o tamanho da dor, e ver o limite dela.

Ver que o silêncio perfez o vão pra queda e abriu espaço pra outras palavras... Palavras mais vivas e mais divididas. Divididas quando são palavras de realização em existência dupla, conjugal e não palanques de auto-afirmação oca. E no jardim que se plantou tantas belezas, ver brotar os sorrisos que se reconhecem homem de pequenos tesouros. Não apenas ser e ter pequenos tesouros, tem consciência da beleza de existir assim, de se realizar na história que construiu na busca de atravessas as teias secas do aprisionamento da ancestralidade, para reconstruir no zero o novo. Para criar alternativas, já que elas não existem!

Estar na sociabilidade para a contemplação coletiva da beleza que paira dos diferentes corações. E dos frutos tirar a certeza de enfiar a cara no mato quantas vezes necessário for.

Que nos tropeços que ainda me acompanham, essa premissa me seja parceira antes e depois da queda.

segunda-feira, fevereiro 16, 2009

Dessaturando...

Em velhos toldos vermelhos
é que hoje se faz o casulo
a sinfonia de ruídos
em claustros de agrofobia
descem as lágrimas,
as gotas,
as dores em fluídos
de cada cena mágica
que se esvai no suor do corpo aguerrido
encolhido no ventre do silêncio
no canto escuro das conversas soltas

e nos interstícios dos abraços que se fazem casa
definha o peito
às traças do leito
insólito direito que se deu o inconsequente coração
perdido nas palavras descartadas
soltas no vento
desoladas no alento

agoniza contido
o urro desvalido
pra ninguém ouvir
pra ninguém o ver destruir
insandecido
tudo que amou
o pedido solitário de aconchego que proclamou




"por amor às causas perdidas"

quarta-feira, fevereiro 11, 2009


E o poeta levanta os olhos dos arranhões na mesa, vira-se à moça, segurando seus sapatos novos, e completa o interlúdio docemente:

- As injúrias das longínquas professias, se desfizeram embaralhados no esteio que te puseram nos fatos. Como se teus dias fossem pura e simplesmente uma sucessão de fatos, cadenciados na vontade de outro... Uma supraorgânica tendência de encruzilhar-se entre factíveis desejos e voláteis ensejos em busca da raiz que sustenta o caule.
É, minha cara... Estamos perdidos. Os dias continuam a passar.
A casa que procuras nos olhares apressados, não vão te dar nada além de uma vontade não realizada do amanhã. E pode largar a idéia de que há algo no ar que te entorpece. Os ventos do mangue se renoram sempre, não corres perigo maior do que ter de ficar aí, prostrada me ouvindo devanear sobre as injúrias que nos impôe o destino. Só insisto, quando noto que suas visitas tem me causado alegria enorme. Suas infindáveis histórias, e o falatório frenético sobre todos que passam me trazem um tanto a mais de sorriso a comungar o que não vivo, o que é do meu mundo. Me ajudas a limpar a mesa, cheia das minhas bagunças escritas, dos meus pedacinhos da nova vida que se ergue diante dos olhos inebriados dos expectadores desdenhosos.
Senta. Prometo não ser tão chato, hoje. Tua amizade é o carinho que me faz companhia, nesta chuva. Deixa eles passarem... Eles vão e vem.
Vou passar o café...