"tento refazer a trama
mas o desfecho é igual.."
Dos ponteiros na sombraé do quanto pode ser o silêncio
a zoeira que me ensurdece
a feira que acumula os berros
todos querendo ser ouvidos
nada frui
tudo conflue
ao passo lento que as certezas
dilapidadas e claudicantes
pegam lugar pra sentar na sala
dos murmúrios uivantes
assentam e levantam
lamentam e ecantam
no chão lavado de tantas lágrimas
sou hoje
o titubeio nobre
do amor saltitando serelepe
anternando na ameaça da dor
que vem...
que vai...
da ausência do lastro
que me arrancou
que me desenhou os mais belos tons
dos versos, uns bons
que de meus braços saltaram
de todas a de mais orgulho
as palavras que de mim nasceram
e que ainda me tomam estas mais...
os espinhos das marcas
escondem-se atrás dos sorrisos tão doces
dos abraços tão nossos
como se existisse nós
pela vontade de acreditar em algo
que não a sentença de estarmos sós
e ele pulsa
insiste em pulsar,
temoso querer
não há forma
só a desforma
só o que deforma
não há forra que contorne o amargo
não há sorriso
que por inteiro e sincero
seja, que a sombra, mais largo
pra dirimir o desassosego
é que atravessa o desapego
o desespero
o descaso
a dor do "não acaso"...
a noite vem, muda
a lua cai, cura
e o amanhã traz os sorrisos solitários perdidos no ar
entregues à contida vontade de voar
e da contenção anestésica
de sentimento nulo
de verborragia ôca
nasce a gana pra mais
para subir mais
atravessar o que só vive na boca
muito ainda por fazer...
quebrando o claustro do silêncio
para derramar-se da água do vaso
e molhar tudo o que ainda há de ser
quando muito
depois do susto
abre-se as portas dos armários
a que caem no chão
os velhos livros socados à força
as roupas esquecidas
e mofo de outrora...
Cheia cura
Nos limites tenebrosos das obscurescências
venho a ti
volto aqui
Para o deleite do lodo
O agouro estarrecido
À luz da noite
Onde se afaga o brilho
a objetividade do dia
a crueza do estribo
Queima o pranto vertiginoso
Lágrimas novas que já são antigas
que já me são cantigas...
venho à ti Lua
deito nos teus astros
inexorável
minha lamúria toda nua
E destarte
à duas mãos
ter o acalento do peito vazio
nos teus braços de luz cheia
Para crescer da dor a força
cobrir o buraco que a falta fazia
e ir...
seguir daqui, ir...
pro avesso concreto
pro desalento
que outrora
ainda me aguarda discreto
deitado no âmago da ausência
que de tão presente
fez molhado meu rosto
da espera impossível
inexeqüível
desse amor que tem que passar...