quinta-feira, novembro 08, 2007

Uma prosa pra matar a saudade...


Tratado de apresentação

Declaro aos meus devidos fins, ou a quem não for de interesse que:
não sou muito simpático, mas já fui bem mais introvertido e, nos últimos tempos cheguei a o rótulo de divertido. Não sei bem das pessoas (outrora já me preocupei em postular sobre a vida dos outros, hoje nem tanto), mas cresci ouvindo que tínhamos que ser o melhor que podíamos. Tudo bem que às vezes tomo isso muito à risca, mas o esforço já me trouxe coisas que hei de carregar para além desta vida. Sim... acredito que há vida para além desta matéria; na verdade acredito que há vários tipos e níveis de matérias e elas coexistem sem serem regidas necessariamente pelas mesmas leis.

Uma vez me perguntaram porque tudo na minha vida envolvia guerra. Escrevi uma música em resposta. Hoje percebo que levo os meus compromissos como uma luta, e não como uma guerra. Tenho a vida como uma tensão entre luta e sonho, onde a luta é o que nos faz seres humanos, viventes, crentes, descrentes, amargos, felizes, amantes ou não! É a concreticidade que permeia o dia-a-dia na qual uns são mais favorecidos que outros. A responsabilidade do homem é lutar para acabar com os problemas que criou e complicou exponencialmente ao longo da história. A meu ver, o espaço-geográfico é o lócus da reprodução das relações de exploração, de trabalho, mas é o plano real onde é possível através da força cotidiana transformarmos os descaminhos da sociedade. Na verdade, quem acha isso é o Lefebvre...

É aí que mora o sonho... Nesta labuta, o que nos inspira, que nos alimenta e fortalece pela criação de um outro mundo é a esperança. Como se caminhássemos por uma longa praia, onde o que nos toma em objetivo, o que nos é mote, se desenha como sendo o sol. A busca pelo novo, a força que ferve, que apaixona, que explode em criatividade pela construção de uma realidade outra, mais humana, mais honesta e autêntica. Se andamos para o crescimento, para o encontro com o sol, a praia é o espaço e as nossas pegadas as marcas do tempo, da história. E caminhamos, tropeçamos, nos batemos e nos encontramos. Nos desencontramos também. É... Sou um pouco dualista. Na verdade, acredito no principio da oposição integradora e acho que o homem em sua qualidade social e individual é prenhe dos opostos e sobrevive do jogo dialético entre eles. Nas palavras do cantor “em encontros e desencontros”.

Mas eu acredito no encontro. Sim, acredito no amor. Independentemente dos rótulos, acredito no amor como a força de renovação, de superação. Desculpe se me mostro démodé. Como diria uma amiga: “o amor é uma flor roxa, que cabe no coração do trouxa!” Desde esse dia me tenho como um trouxa, e pretendo morrer trouxa. Se não ser mundano o suficiente para se acabar na superficialidade das relações que se apresentam no mundo significa ser trouxa, morrerei trouxa, pois acredito no homem, e acredito que a única resposta para o crescimento é a procura da profundidade, da essência dos sentimentos, pois só assim podemos nos transformar. Quem não se olha e não se reconhece errante, passivo de imperfeições, fugindo em festas e comemorações, é cego de si, e perecerá nas desilusões.

É... Às vezes sou severo. Mas já fui bem mais. Hoje, sou mais calmo e vivo entre o reacionário e o revolucionário. Às vezes sou xiita na busca de contestação da imposição do capital; às vezes sou calmo que beiro a passividade; mas estou sempre na busca do equilíbrio. Acredito numa doutrina fundada por um idoso japonês chamado Morihei Ueshiba, onde todo e qualquer conflito só pode ser resolvido na busca do equilíbrio e de uma abordagem sem agressão e choque, prezando pela harmonia. Há alguns anos essa busca já faz parte de minha rotina.

Não sou beata, mas sou religioso. Não me sinto mais filiado a nenhuma religião, mas no sentido mais amplo onde religião vem da palavra religare fazendo alusão à uma divindade, sou religioso. Não vou dormir imaginando um vovô de barba branca sentado num trono, mas acredito numa força maior não personificada, na ordem dos astros, numa coerência para além da compreensão humana.

Mas às vezes sou pragmático. Quero que o telefone funcione e apenas funcione! Gosto de requeijão, não sou muito de peixe, mas esses dias comi um pargo como nunca tinha comido. Não sou muito apegado à estética e não faço do desenho do meu corpo algo mais do que a forma do que carrego comigo em essência. Não sou sarado, nem gordo; mas sou também os resquícios do açaí de ontem. Mas esse, só o de casa mesmo, por que açaí paraense só tem no Pará. Não costumo freqüentar restaurantes e sou mais de pão do que de pratos... Pão de queijo e café com leite. Às vezes queria que todas as refeições do dia fossem o café da manhã! Não misturo doce com salgado. Adoro sorvete e pipoca. Nunca comi juntos, mas o faria para experimentar em situações especiais. Aliás, já tinha prometido fazer assistindo filme, mas acabou não acontecendo... Assisto muitos filmes. De fato, é a forma mais eficaz de descanso para minha profusão de pensamentos.

Sou racionalista e acredito na ciência. Meu trabalho é a pesquisa e a eloqüência... Mas minha casa é a arte, a emoção. Sou poeta... Na verdade, venho juntando alguns rótulos na tentativa de alcançar a diversidade que minha expressão almeja. Sou músico, poeta, fotógrafo, geógrafo e algumas outras coisas. Mas se tivesse que resumir, só um pode ser aplicado em tudo: sou um apaixonado. Deliberadamente apaixonado, pela vida, por pessoas, por tudo o que me desperta apreço.

Segundo o depoimento de um novo amigo, o homem apaixonado perde completamente o eixo, perde a lógica e a racionalidade. Para ele a lógica é o que assegura o ser humano. Para mim a paixão é o que move para alçar novos vôos, para alcançar novos ares. É da faceta egoísta de nossa carne. Querer pra si o que parece ser dos céus, divino. E morrer de amores... A paixão é criação, possibilidade, oportunidade. Só quem já esteve apaixonado e decidiu entregar-se na ousadia e no risco de mergulhar nesse sentimento sabe quantos sorrisos pode alcançar à despeito das lágrimas que possam surgir. Sabe, não tenho muitos problemas com as lágrimas. Acho que elas são tão importantes quanto os sorriso. Na verdade, me emociono com relativa facilidade, mas guardo-as para mim. É... sou envergonhado. Já fui muito tachado, portanto guardo o que me alimenta para mim mesmo e para algumas poucas pessoas.

Já amei e já sofri. Não muito, mas o suficiente para ter medos. Relação duradoura, só tive uma e ainda trago marcas dela. Já faz tempo, mas as pessoas não simplesmente passam na minha vida, elas escrevem o nome na minha história.

E assim, levo meus dias. Ora sonhador, ora descrente. De esperanças e frustrações.

4 Comments:

Blogger MariaClara said...

incrivel como cada linha é tao clara, que a mim, da a impressao que nao é um escritor, mas um pintor que a cada linha pinta uma tela...

:~]


:*

09 novembro, 2007 11:01  
Blogger Lívia Mendes said...

ooolha, a foto do post anterior deveria se chamar amor.

dã!

ps.:amei tudo, mas a filha do atrônomo ainda é o meu preferido ;)

09 novembro, 2007 11:44  
Anonymous Anônimo said...

Ai, rodolfo Braga...

09 novembro, 2007 20:15  
Anonymous Anônimo said...

A melhor coisa que fizeste foi externar esse texto. Fiel, simples, profundo: TU!

Bjos

PS: Soverte com pipoca não sei não, mas com batata frita... adoro!

13 novembro, 2007 12:15  

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