Insonho antigo
Ela me abateu mais uma vez. A insônia. Há tempos ela não havia de ser tão arrebatadora. Não, não foi ontem. Dormi bem... há dias, ela passou. 11, 12... Não sei, insônia não tem data! Ela vem e atravessa o calendário como um foguete. Transita onde o homem não consegue enquadrá-la.
Ela estava lá. Tão forte em mim, que sentia superar a virtualidade comum até então. Não a insônia. A causa dela... Alguém dividia a dança dos astros, manhã e noite. Ou melhor, os astros do dia e da noite se combinavam para que dividíssemos aquelas pouco mais que outras intenções. Num clichê adolescente, lutávamos com a única arma que tínhamos contra a distância, não tão brutal, mas significativa que se punha entre nós. Ela parecia carregar consigo a mesma voracidade pela ânsia de encontro. Conversávamos como, há pouco, amigos. Pouco desconhecidos, mas de alguma maneira velada, estarrecidos. Um pelo outro, pela novidade, talvez, não sei dizer. Eu estava por ela! É, nos perdíamos ao telefone no meio da noite. E quantos telefone fossem necessários; eles morreriam pela vontade de estar junto. E posso senti-la ainda trêmula, quando certas emoções dominavam nossos órgãos verbais. Eu disse. Enfim disse o que supostamente não se diz numa amizade. Disse do meu interesse, da minha confusão. Disse que mesmo que não quisesse, ou algo impedisse, já a tinha em meu coração. Já, quando perto dela, me faltava a respiração. Disse, ou pelo menos dei a entender. E ela disse! Ela respondeu, ou melhor, ela correspondeu a mim. Ainda posso senti-la enfurecida por dizer que não poderíamos nos sentir assim. Ainda posso...
E como mágica nessa poesia noturna, o dia desvelou a noite. E perguntava: o que fazemos? Já era tarde. Meu sono morrera e minha sede dela, às vezes ainda arde. Como fenecer o corpo com aquela vontade? Impossível. Minha insônia parecia ter me recobrado as forças que perdera há pouco mais que um ano atrás. Me perdi. Naquele amanhecer, me achei! Não dormi, mas acordei. Pudera eu desenhar o gracejo que a pouca luz da praça fazia ao tentar tocar a janela. Não podia ver nada além do céu, que mudava de cor, e de uns pouco livros meus que adormeciam – esses, há muito – no móvel perto da janela, acariciados pela luz fraca que insistia em entrar.
Já não dava mais pra fingir qualquer sanidade. Nos amamos a noite toda como pássaros recém descobertos pelo horizonte. Não havia tantas regras que não fosse nossas vontades. E, portanto, saltei em ousadia ao propor que contemplássemos o nascer do dia. Depois de tudo o que fora dito, tinha que beija-la, tinha que beija-la. E a palidez se apossou do meu rosto quando ela aceitou. “Uma esquina antes da praça”. A indecisão, o pavor, o fervor. Espero, ou vou logo? O que direi? De tanta ânsia, fui perfazendo seu percurso em caminho inverso com desculpa qualquer, apenas para encontra-la logo.
“Por Deus, como ela é linda”, pensei. E a acompanhei gentilmente até nosso ponto de encontro na praça. Aquela altura o dia parecia nublado. E nossos corações ávidos, ensolarados. Meu fulgor irradiava e despudoradamente nos iluminávamos. O dia nascia como que desse a crer numa nova vida, um novo amor. E só o sol para coroar tal emoção, tal junção. Toquei sua mão como se me deleitasse em consentimento completo e me entregasse de peito aberto. O que vi naquele olhar, minhas parcas palavras e meu pobre coração literário nunca poderão tocar. E como a amei aquele dia! Sinto a ausência daquele acalento ainda agora, quando me vejo em solidão e revisito minhas memórias. Me senti encaixar nos seus braços e me encontrar e seus lábios como talvez nunca ousara me arvorar. Nossos medos cabiam no bolso, e tantas árvores pareciam poucas para testemunhar tamanha voracidade minha por ela. Quase esqueci de tudo, do mundo, do jogo, do absurdo. Quase me descolei do chão em leveza, como se fosse encontra-la nas nuvens, como se fossemos dançar ao pé no vento por um dia inteiro, esquecendo de qualquer impedimento físico.
Mas ela foi. Tive de deixa-la ir. Se deixasse, minha paixão me faria casar com ela ali! Tive de deixa-la... Ela disse que sentiria falta na próxima esquina. Eu senti! Como ainda sinto. Por um dia eu amei; por um dia me encontrei; por um dia a insônia me alimentou. Renasci.
Que a Força nos acompanhe...
Ela me abateu mais uma vez. A insônia. Há tempos ela não havia de ser tão arrebatadora. Não, não foi ontem. Dormi bem... há dias, ela passou. 11, 12... Não sei, insônia não tem data! Ela vem e atravessa o calendário como um foguete. Transita onde o homem não consegue enquadrá-la.
Ela estava lá. Tão forte em mim, que sentia superar a virtualidade comum até então. Não a insônia. A causa dela... Alguém dividia a dança dos astros, manhã e noite. Ou melhor, os astros do dia e da noite se combinavam para que dividíssemos aquelas pouco mais que outras intenções. Num clichê adolescente, lutávamos com a única arma que tínhamos contra a distância, não tão brutal, mas significativa que se punha entre nós. Ela parecia carregar consigo a mesma voracidade pela ânsia de encontro. Conversávamos como, há pouco, amigos. Pouco desconhecidos, mas de alguma maneira velada, estarrecidos. Um pelo outro, pela novidade, talvez, não sei dizer. Eu estava por ela! É, nos perdíamos ao telefone no meio da noite. E quantos telefone fossem necessários; eles morreriam pela vontade de estar junto. E posso senti-la ainda trêmula, quando certas emoções dominavam nossos órgãos verbais. Eu disse. Enfim disse o que supostamente não se diz numa amizade. Disse do meu interesse, da minha confusão. Disse que mesmo que não quisesse, ou algo impedisse, já a tinha em meu coração. Já, quando perto dela, me faltava a respiração. Disse, ou pelo menos dei a entender. E ela disse! Ela respondeu, ou melhor, ela correspondeu a mim. Ainda posso senti-la enfurecida por dizer que não poderíamos nos sentir assim. Ainda posso...
E como mágica nessa poesia noturna, o dia desvelou a noite. E perguntava: o que fazemos? Já era tarde. Meu sono morrera e minha sede dela, às vezes ainda arde. Como fenecer o corpo com aquela vontade? Impossível. Minha insônia parecia ter me recobrado as forças que perdera há pouco mais que um ano atrás. Me perdi. Naquele amanhecer, me achei! Não dormi, mas acordei. Pudera eu desenhar o gracejo que a pouca luz da praça fazia ao tentar tocar a janela. Não podia ver nada além do céu, que mudava de cor, e de uns pouco livros meus que adormeciam – esses, há muito – no móvel perto da janela, acariciados pela luz fraca que insistia em entrar.
Já não dava mais pra fingir qualquer sanidade. Nos amamos a noite toda como pássaros recém descobertos pelo horizonte. Não havia tantas regras que não fosse nossas vontades. E, portanto, saltei em ousadia ao propor que contemplássemos o nascer do dia. Depois de tudo o que fora dito, tinha que beija-la, tinha que beija-la. E a palidez se apossou do meu rosto quando ela aceitou. “Uma esquina antes da praça”. A indecisão, o pavor, o fervor. Espero, ou vou logo? O que direi? De tanta ânsia, fui perfazendo seu percurso em caminho inverso com desculpa qualquer, apenas para encontra-la logo.
“Por Deus, como ela é linda”, pensei. E a acompanhei gentilmente até nosso ponto de encontro na praça. Aquela altura o dia parecia nublado. E nossos corações ávidos, ensolarados. Meu fulgor irradiava e despudoradamente nos iluminávamos. O dia nascia como que desse a crer numa nova vida, um novo amor. E só o sol para coroar tal emoção, tal junção. Toquei sua mão como se me deleitasse em consentimento completo e me entregasse de peito aberto. O que vi naquele olhar, minhas parcas palavras e meu pobre coração literário nunca poderão tocar. E como a amei aquele dia! Sinto a ausência daquele acalento ainda agora, quando me vejo em solidão e revisito minhas memórias. Me senti encaixar nos seus braços e me encontrar e seus lábios como talvez nunca ousara me arvorar. Nossos medos cabiam no bolso, e tantas árvores pareciam poucas para testemunhar tamanha voracidade minha por ela. Quase esqueci de tudo, do mundo, do jogo, do absurdo. Quase me descolei do chão em leveza, como se fosse encontra-la nas nuvens, como se fossemos dançar ao pé no vento por um dia inteiro, esquecendo de qualquer impedimento físico.
Mas ela foi. Tive de deixa-la ir. Se deixasse, minha paixão me faria casar com ela ali! Tive de deixa-la... Ela disse que sentiria falta na próxima esquina. Eu senti! Como ainda sinto. Por um dia eu amei; por um dia me encontrei; por um dia a insônia me alimentou. Renasci.
Que a Força nos acompanhe...
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