quarta-feira, agosto 23, 2006


Sobre estar só II - Medo de ser Feliz

Tentei não me compadecer dela. Tentei não sentir sua dor enquanto amarelava o sorriso à medida que se dava conta de que lembrava dele! Ele quem fosse, era passado, ou pelo menos deveria ser, pela fala dela ao firmar que as coisas estavam já bem resolvidas. “The saddiest girl who ever hold a martini”. Quase senti, como se fosse minha a suposta dor. Ainda disse da necessidade de se ter consciência para ter coragem e da coragem para ter consciência.
Por que é tão duro saber o que fazer e – às vezes mesmo querendo – não conseguir fazer? Foi duro caminhar pelas brumas do isolamento. Tive que aprender a aprender com a solidão “no tranco” como diz meu pai. Quase sucumbi. “Consegui meu equilíbrio cortejando a insanidade”. Tive medos muitos e muitas vezes... Medo de não conseguir ser alguém melhor sozinho, medo de ser sozinho, medo de perder a única possibilidade aparente de companhia verdadeira. Medo de ser feliz. Só sendo só, pode-se haver de tocar gotas de felicidade.
Encontrei na porta do banheiro um lembrete – em tom de ordem – que escrevi para mim mesmo, nessa época: “Aprenda a fechar os ciclos da vida respeitando sua finitude sem cultivar a dor. Ache o lugar do passado na memória e cultive um devir frutivo, de possibilidades renovadoras.”. Preguei atrás da porta pra eu sempre me lembrar de não dar vazão à minha vontade vil de agir como uma criança com medo de morrer quando os pais se distanciam. Com medo de tudo, principalmente das coisas mais absurdas. Precisava ficar só para me desintoxicar de mim mesmo na doença com outra pessoa. O difícil, não foi reconhecer isso. Foi fazer!
Pudera eu ter tido a coragem de reconhecer que precisava de ajuda. Acabei me fortalecendo nas coisas mais improváveis que estavam ao meu redor. As pessoas acabaram me ajudando mesmo sem saber. Só assim pude recobrar forças. Além do medo de perder o mundo estruturado, como tinha dividindo uma vida com uma pessoa – meu passado –, tinha medo de perder meus projetos, meu futuro. Apenas a certeza de que tudo passa me mantinha firme na escolha.
Hoje, não contabilizo meus méritos. Na verdade só posso dizer que aprendi a aprender com a solidão. Não aprendi nada além de que sempre serei só e um grupo, indivíduo e coletividade numa dialética que não se esvai com o tempo. De certo, aprendi que estarei sempre aprendendo, mesmo quando não quiser reconhecer isso. Solidão não é conjuntura, é estrutura, é condição. Ter medo dela é ter medo de si. Hoje, talvez consiga enamorar-me de mim, apesar das incertezas que me acometem.
Outra dor, a dor de outra pessoa, me lembrou a minha. Dor que passou, que é passado. A sinto sempre. Ela existe em fragmentos. Dor que é dor não se esquece, ela sara. Cicatriz não desaparece, marca. Cura, mas marca.


Que a Força esteja conosco...